A startup brasileira de US$ 3 bilhões
Na edição de hoje: Tour de France: o evento de US$ 150 milhões que não cobra ingresso; o crash de 1971 e o excesso de otimismo na Bolsa brasileira e a startup brasileira de US$ 3 bilhões.
“Em toda a minha vida, nunca conheci pessoas sábias que não lessem o tempo todo — nenhuma, zero.” — Charlie Munger
⏩ Curiosidades da semana:
📈 A Vanguard, maior gestora de fundos de investimento do mundo, foi a pioneira dos fundos de índice ao lançar, em 1976, o Vanguard 500 Index Fund — que replicava o S&P 500.
🖨️ Foi no laboratório da Xerox que surgiram inovações como o mouse, a interface gráfica com janelas e a impressora a laser — tecnologias que mais tarde foram popularizadas por empresas como a Apple e a Microsoft. Mesmo assim, a Xerox nunca capitalizou totalmente essas criações.
🚴 Tour de France: o evento de US$ 150 milhões que não cobra ingresso
Considerada a maior competição do calendário anual do ciclismo de estrada profissional, o Tour de France é uma daquelas raras competições esportivas que unem tradição, esforço sobre-humano e uma estrutura comercial extremamente lucrativa. Durante praticamente todo mês de julho, quase 200 ciclistas percorrem mais de 3 mil quilômetros pela França, cruzando cidades, vilarejos, fazendas e montanhas ao longo de 21 etapas.
Mas, o que realmente chama a atenção são os números e o modelo de negócios do evento: nenhum centavo é cobrado do público para assistir ao espetáculo — e ainda assim, a corrida fatura mais de US$ 150 milhões por ano.
Esse faturamento vem, principalmente, de três pilares: direitos de transmissão, patrocínios e taxas pagas pelas cidades em que os atletas passam. Os direitos de transmissão representam mais da metade do faturamento total e envolvem uma operação gigantesca: são necessários cerca de 260 profissionais de câmera, 35 veículos técnicos e até seis aeronaves para gerar as imagens que chegam a mais de 190 países. Só a TV pública francesa paga cerca de US$ 25 milhões anuais para ter os direitos de exibição.
Já os patrocínios respondem por aproximadamente 40% das receitas. O banco francês LCL, por exemplo, desembolsa cerca de US$ 12 milhões por ano apenas para estampar seu nome na lendária camisa amarela, a camisa que identifica o líder geral da competição. E mais de 30 marcas pagam quantias de seis dígitos para participar da “caravana publicitária” — uma espécie de desfile promocional que distribui brindes ao público ao longo do percurso.
Mesmo com toda a grandiosidade do evento, quem realmente lucra é a Amaury Sport Organisation (ASO), empresa privada que organiza o Tour desde 1965. As cidades sede arcam com seus próprios custos e, diferentemente de outros esportes, nenhuma parte da receita é repassada às equipes. Isso obriga as equipes a dependerem quase que exclusivamente de patrocinadores para se manterem de pé.
E os números por trás das equipes também impressionam. As equipes com grandes patrocínios, como a UAE Team Emirates ou a Ineos Grenadiers, chegam a gastar até US$ 75 milhões por temporada. Desse montante, cerca de 70% do orçamento vem do patrocinador principal — que aposta na visibilidade da TV para justificar o investimento.
A prova, criada em 1903 como uma estratégia para vender mais exemplares do jornal L’Auto, sobreviveu a guerras, escândalos de doping e mudanças tecnológicas. Hoje, é um dos três maiores eventos esportivos do planeta — atrás apenas da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos — mesmo sem vender ingressos.
A cada ano, cerca de 10 milhões de pessoas acompanham o Tour presencialmente, enquanto 2 bilhões assistem pela TV. Além da prova em si, a corrida movimenta o turismo, fortalece marcas globais e promove a imagem da França no mundo. É o exemplo perfeito de como tradição e eficiência comercial podem se unir para transformar tudo isso em um evento esportivo altamente rentável.
📉 O crash de 1971 e o excesso de otimismo na Bolsa brasileira
O crash da Bolsa de Valores brasileira em 1971 foi um daqueles episódios que deixaram marcas profundas no mercado financeiro do país. Foi uma bolha clássica: euforia, excesso de otimismo, alta desenfreada dos preços e, como sempre, uma queda brutal. Mas, para entendermos exatamente o que aconteceu, é preciso voltar um pouco no tempo e observar o cenário econômico e político da virada dos anos 1960 para os anos 1970.
Durante o governo Médici, o Brasil vivia o auge do chamado “Milagre Econômico”, período de crescimento acelerado, com PIB subindo mais de 10% ao ano. O país vivia uma onda de otimismo e o governo incentivava o investimento em ações como forma de financiar empresas nacionais. A entrada de novos investidores, muitos deles sem qualquer experiência no mercado, aumentou consideravelmente a liquidez.
Entre 1968 e 1971, o índice da bolsa carioca subiu mais de 1.300%. Era uma multiplicação de fortunas que parecia fácil e acessível. Empresas desconhecidas viraram febre entre os investidores, muitas delas abrindo capital sem qualquer histórico sólido de resultados. Em poucos anos, o número de CPFs cadastrados na bolsa saltou de 30 mil para mais de 400 mil.
Mas como toda bolha, essa também estourou. No segundo semestre de 1971, com o fim dos estímulos e o início de uma percepção mais realista sobre a saúde das empresas listadas, o mercado começou a desabar. Em poucos meses, a BVRJ perdeu mais de 60% do seu valor. Milhares de investidores – muitos deles de classe média – viram suas economias evaporarem.
A derrocada foi agravada por fraudes contábeis, manipulação de balanços e empresas fantasmas. O governo, que antes havia incentivado fortemente o acesso ao mercado acionário, agora pouco podia fazer além de tentar conter o pânico. Com isso, o mercado acionário brasileiro ficou estagnado por quase duas décadas. A BVRJ, que liderava o volume de negociações, entrou em decadência e perdeu espaço para a Bovespa, em São Paulo.
Esse episódio é considerado por muitos como o maior crash da história do mercado financeiro brasileiro. O crash de 1971 deixou um legado de desconfiança que só começou a ser revertido nos anos 2000, com a retomada da cultura de investimentos no país.
Mais do que um capítulo sombrio da economia brasileira, o colapso de 1971 é um estudo de caso sobre psicologia de massas, regulação falha e os perigos da especulação desmedida. E se você quer entender como as grandes empresas tomam decisões estratégicas com base em história e dados, acesse a Comunidade do Curioso Mercado. Por lá, você terá acesso:
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🎮 A startup brasileira de US$ 3 bilhões
Em 2011, os irmãos Victor e Arthur Lazarte iniciaram na casa dos pais, em São Paulo, o que viria a ser a Wildlife Studios, hoje o estúdio de games mais valioso da América Latina. Com apenas US$ 100 investidos, eles batizaram a empresa de TFG (Top Free Games), apostando em oferecer jogos gratuitos que conquistariam jogadores pelo mundo inteiro.
Nos primeiros anos, a Wildlife — ainda TFG — lançou sucessos como Racing Penguin, que atingiu 100 mil downloads por dia, e Bike Race, eleito jogo do ano da Apple em 2012 e mais tarde o mais baixado no Facebook em 2013. Em 2014 veio o Sniper 3D, que se manteve entre os títulos mais baixados até 2018, e em 2016 lançaram Colorfy, Castle Crush e War Machines, ganhando espaço em novos gêneros multiplayer.
O crescimento acelerado chamou a atenção do mercado: em dezembro de 2019, a Wildlife levantou US$ 60 milhões em uma rodada liderada pelo Benchmark Capital, tornando-se um unicórnio avaliado em US$ 1,3 bilhão.
Pouco depois, em agosto de 2020, captou mais US$ 120 milhões numa Série B liderada pela Vulcan Capital, elevando sua avaliação a US$ 3 bilhões e consolidando presença global com cinco escritórios, mais de 100 milhões de usuários ativos mensais e crescimento orgânico de cerca de 70 % ao ano. Em 2021, a empresa anunciou a abertura de um escritório em Israel e de novos estúdios afiliados, como o SuperWow!, em Austin, e a FoxBear Games, em Los Angeles — ambos nos Estados Unidos.
De acordo com informações da própria Wildlife Studios, hoje a companhia soma cerca de 800 colaboradores distribuídos em oito escritórios pelo mundo, tendo lançado mais de 60 jogos que juntos ultrapassam a marca de 3 bilhões de downloads.
Com presença internacional, bilhões de downloads e uma cultura de inovação contínua, a empresa colocou o Brasil no mapa da indústria de games. Mais do que um caso de sucesso, a Wildlife se tornou uma referência de como excelência técnica e ambição podem criar negócios inovadores no país.
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A Sabedoria de Charlie Munger reúne os principais discursos e ensinamentos do lendário investidor da Berkshire Hathaway. Ao longo da obra, Munger compartilha sua visão ampla sobre negócios, finanças, psicologia, ética e tomada de decisão. O livro destaca a importância dos modelos mentais e da interdisciplinaridade como ferramentas para pensar melhor e agir com mais sabedoria.
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